Congresso internacional de educação ambiental e justiça climática, em Manaus, debate saberes e fazeres dos povos originários

O congresso integra agenda preparatória da COP30 e reúne mais de 1,6 mil participantes de 10 países em Manaus

Realizado na cidade de Manaus, de 21 a 25/7, o VIII Congresso Internacional de Educação Ambiental dos Países e Comunidades de Língua Portuguesa, debate no eixo cinco as experiências e conhecimentos das populações tradicionais e povos originários para levar como propostas a COP 30.

Uma sala debateu sobre o eixo cinco sobre o papel das comunidades tradicionais e da justiça climática global e local, com a participação de pesquisadores de várias regiões do país, servidores públicos e moradores de comunidades amazônidas, dia 22/7, para conhecer como a experiência amazônica pode contribuir para esse congresso a partir do ser, pensar e do politizar o amazônida.

O facilitador da reunião foi o advogado ativista e pesquisador, Denison Aguiar, que afirma não poder se pensar a Amazônia sem o Amazônida: “É preciso amazonizar a Amazônia. É preciso fazer esse processo de retomada.” Para tanto ele abre o questionamento das consequências desse processo de retomada? “As políticas públicas e sociais amazônidas, pensadas a partir das experiências bem-sucedidas da Amazônia”, diz ser esse é o primeiro ponto. O segundo ponto, a consolidação das identidades que estão em processos de retomada, sejam indígenas, caboclas, quilombolas. “Um reconhecimento político, de representação política desses grupos como atores sociais em comitês, em comissões e até mesmo no parlamento”, pontua Aguiar.

Um dos pontos discutidos na roda de conversa foi o processo de antropização dos povos originários, que conhecem o ambiente natural de todos os biomas do Brasil. Aguiar cita as pesquisas, do professor Carlos Edivar, na UFAM, fez essa pesquisa a partir do manejo pesqueiro, e que vale para a floresta. “A Amazônia, não só como uma floresta, mas como um lugar de existência, ela só é o que é porque ela foi manejada”. E prossegue: “Amazônia é um resultado do manejo das populações indígenas, das populações tradicionais que vivem nela”.

Ele afirma que, não se pode dissociar a Amazônia dos povos e comunidades que estão nela. “Que é diferente da ocupação que vem de fora. E, é por isso nós falamos, que a Amazônia, seja em sua floresta, lagos, ela é um resultado de uma união entre o ser humano e a natureza”. A união essa que nunca poderia ter uma divisão, porque o ser humano e o meio ambiente natural são um. “E é essa unidade, esse sentido de unidade que nós não podemos negligenciar e nem esquecer, finaliza Aguiar.

Feira e exposição

No espaço dedicado a exposição de trabalhos científicos no pátio da feira de produtos comunitários sustentáveis, a bióloga, Ana Beatriz de Barros, que faz mestrado em análise ambiental integrada pela Unifesp, expôs o trabalho, que é parte dos resultados do mestrado intitulado PANC (plantas alimentícias não convencionais) e Educação Ambiental. Ela conta que estuda inter-relações possíveis para a formação de sujeito ecológico decolonial. “Então eu fiz a ponte entre o lado ambiental e a colonização, os seus impactos, os seus efeitos, e as PANCS, que eram o que aqueles povos consumiam”. A pesquisa é realizada na região Sudeste, com quatro espécies, a Tayoba, a Ora Pronobis, e outras duas que representam a América Latina, que é a Capuchinha e a Chaya.

Congresso de Manaus

Considerado o maior evento da lusofonia voltado à temática socioambiental, o congresso em Manaus reúne mais de 1,6 mil participantes de dez países, com representações de governos, universidades, movimentos sociais, organizações da sociedade civil e comunidades tradicionais.

Integrado à agenda preparatória da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2025 (COP30), o congresso tem como tema “Educação ambiental e ação local: respostas à emergência climática, justiça ambiental, democracia e bem viver”. A programação conta com painéis temáticos, oficinas, minicursos, conferências, sessões de apresentação de trabalhos científicos, pôsteres e materiais audiovisuais, visitas a comunidades locais, além do lançamento de livros e atividades culturais que valorizam a sociobiodiversidade amazônica. “Queremos que cada participante viva experiências transformadoras, conectando-se com saberes ancestrais, práticas pedagógicas inovadoras e territórios que enfrentam diariamente os efeitos da crise climática”, afirma Marília Torales, professora da Universidade Federal do Paraná e uma das coordenadoras gerais do evento.


Entre os destaques estão a participação da ministra do Meio Ambiente e da Mudança do Clima do Brasil, Marina Silva, na sessão oficial (21/07) e na cerimônia de abertura (22/07), e a conferência de encerramento com o pesquisador espanhol Carlos Taibo (25/07), referência mundial em decrescimento, democracia radical e justiça climática.

Diversidade de vozes e territórios da lusofonia

Mais do que um encontro acadêmico, o congresso se consolida como espaço de articulação política e pedagógica da educação ambiental nos territórios de língua portuguesa. Ao todo, 15 eventos integrados – encontros colaborativos com foco em políticas públicas, redes de sustentabilidade, educação formal e não formal, e experiências comunitárias nos países da lusofonia – antecedem a programação oficial.
Também estão previstos mais de 70 espaços de formação com oficinas e minicursos voltados à troca de metodologias, saberes e experiências. Outro destaque será o conjunto de atividades de convivência e aprendizagem com comunidades locais (24/07), quando os congressistas poderão conhecer experiências comunitárias da região amazônica.
Além disso, o evento conta com painéis temáticos, apresentações de comunicações científicas e materiais audiovisuais, mesas-redondas e atividades culturais.

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Educação ambiental como política pública

Toda a programação está articulada em cinco temáticos eixos que irão compor a Carta de Manaus, documento político-pedagógico que será construído durante o congresso. Os eixos abordam desde os compromissos internacionais com as políticas públicas de educação ambiental até o papel das comunidades tradicionais e da justiça climática global e local. “O convite que a ministra Marina Silva dirige aos outros oitos países de língua portuguesa e à comunidade da Galiza simboliza o compromisso político e pedagógico do Brasil com as questões ambientais em um momento decisivo”, avalia Marcos Sorrentino, diretor de Educação Ambiental e Cidadania do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima e um dos coordenadores gerais do congresso.

A iniciativa é organizada pela RedeLuso, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente e da Mudança do Clima, Ministério da Educação, Governo do Estado do Amazonas, Secretaria de Estado de Educação e Desporto Escolar do Amazonas, Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Amazonas e Fundação Matias Machline.

Programação completa
Site (https://www.ealusofono.org/programacao) ou documento (https://bit.ly/3Gzh3Hp)

Fotos: Cristóvão Nonato

Texto: Cristóvão Nonato com informações da Assessoria de Imprensa

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