Uma celebração ancestral marcou o 1o. Festival de Dança Indígena Kaxiri na Kuia, do Parque das Tribos

A primeira edição do Festival de Dança Indígena Kaxiri na Kuia, foi um verdadeiro encontro de povos e culturas ancestrais, no domingo, dia 16/11, na Maloca dos Povos Indígenas, Parque das Tribos, um território indígena histórico, no bairro do Tarumã.

O festival foi um encontro com a arte da dança que revela o universo espiritual e hábitos das tradições de cada povo.

A competição foi vencida pelo grupo Arte Revelação , em segundo lugar ⁠o grupo Kunhãs Kirimbawa, e em terceiro grupo Tatigü, levando os prêmios principais de: R$ 500, R$ 400 e R$ 300. Os demais grupos levaram um prêmio de participação no valor de R$ 100, com patrocínio da MI Moda Indígena: grupos Maculelê, Mariê, Ewarê, do Macaquinho e Balaio do Parque das Tribos.

A coordenadora do festival, Elisângela Oliveira Apurinã, fez dupla na apresentação do evento junto com o artista Manoel Passos, e ressaltou a importância do evento como um encontro cultural dos povos originários de Manaus e Amazonas, com suas danças típicas que tem raizes antigas. “Estamos aqui reunindo nossas danças, rituais e a celebração de nossas culturas, como forma de comemorar a vida pela resistência de muitas gerações de nossos parentes”, avaliou a coordenadora. Elisangela destacou a visibilidade e valorização da cultura indígena amazônida pelo mundo, que teve recentemente participação nos eventos de Moda e multiculturais na Europa, como o London Fashion Week, na Itália, Austria e exposição no grande Museu do Louvre, em Paris (França), numa parceria rica entre o grupo Kaxiri na Kuia e o projeto MI Moda Indígena.

Ela também lidera o grupo Kaxiri na Kuia, que surgiu no bairro há cinco anos, e que abriu a disputa com o ritual do Kaxiri (bebida alcoólica feita a base de frutas), e distribuiu a bebida ao público presente nas cuias – o grupo fez duas exibições, no início e encerramento, mas sem competir pelos prêmios. O projeto foi contemplado pela Política Nacional Aldir Blanc (Pnab) do Governo Federal/Ministério da Cultura (MinC) por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (SEC) do governo do Amazonas.

O cacique, Ismael Munduruku, liderança da comunidade deu as boas vindas aos visitantes, convidados e grupos competidores, e destacou que o festival de Dança Indígena foi muito bem organizado, e teve um feito de conseguir a participação de um bom número de povos indígenas. “Temos uma agenda de eventos anual, especialmente no mês de abril, e este evento pode vir a fazer parte da programação pela riqueza cultural que reúne”, afirmou.

O diretor presidente da Fundação Estadual dos Povos Indígenas do Amazonas (FEPIAM), Nilton Makaxi, destacou a importância do festival para a manutenção e promoção da cultura indígena: “É importante a gente valorizar nossa cultura, para não acabar nossa história, e poder passar de geração à geração”, afirmou Makaxi.

O evento é um marco para a afirmação cultural da comunidade Parque das Tribos, que tem a maior diversidade de povos e línguas faladas no mesmo espaço, onde residem mais de 5 mil pessoas e são faladas 38 línguas. Foram inscritos oito grupos de Manaus e entorno, através da Internet.

O autor da música tema do grupo Kaxiri na Kuia, Adalberto Paula, do grupo Encantos da Amazônia conta que tem um trabalho de longo tempo com o Parque das Tribos. “E a gente fez um trabalho junto com o cacique Messias [líder fundador da comunidade], falecido durante a pandemia de Covid 19. “E aí surgiu a ideia de a gente fazer uma música com a Elisângela e o pessoal do Caxiri Na Kuia. E pra minha surpresa, hoje, essa música que tá muito conhecida, me sinto feliz de estar contribuindo com a cultura indígena”, diz.

O festival teve uma área com 10 expositores que comercializaram artesanato indígena, pintura corporal e comidas típicas como a quinhãpira, mujeca, beijú, e regionais como o tacacá e pirarucu de casaca.

Jurados

O corpo de jurados foi composto por três profissionais:
Gerson Mendes, ex- dançarino do grupo Garantido Show, e atualmente trabalha com a influenciadora Isabele Nogueira, e mais a
Josiely Pedroso dançarina, influenciadora digital, produtora de eventos, e também, Cristiane Silva da Mota dançarina,influenciadora digital, professora de dança.

O jurado, Gerson Mendes, bailarino e coreógrafo que faz parte do grupo da cunhã-poranga do boi Garantido, Isabelle Nogueira, ajudando nas coreografias dela para Arena do Bumbódromo, comenta sobre o festival indígena Kaxiri na Kuia, como um evento raiz de populações tradicionais ganha visibilidade cada vez mais. “Tive um impacto muito grande, positivo vendo a organização, a movimentação nos bastidores, o empenho das pessoas, o cuidado em cada detalhe”, e ressalta a importância de trazer de volta a cultura, essa representatividade e mostrar para a população o que tem de bom. “Eu vejo potencial muito alto, porque cada ano que passa, (só acompanhava por Instagram e YouTube), e, cada ano que passa, vejo que vai crescendo, vai vindo um investimento maior e apoios importantes”.

Parque das Tribos

A comunidade do Parque das Tribos é a maior área urbana multiétnico do país, e está no processo para ser transformado em bairro, e fundada em abril de 2014, quando começou como uma ocupação organizada por diferentes indígenas.

Segundo dados do IBGE (2022), a comunidade abriga 5 mil pessoas de 860 famílias, provenientes de diversas etnias da Amazônia e de outros estados do Brasil, como Roraima, Pará e Acre. De acordo com o órgão, Manaus tem uma população indígena de 71.691 pessoas. O município lidera o ranking de cidades com mais indígenas no Brasil, com um aumento significativo em relação ao censo de 2010.

Fotos: Jully Leslly e Thalia Gomes

Texto: Cristóvão Nonato

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