Projeto “Do Graffiti às Passarelas” lança coleção “Beirada” com desfile no Ateliê Trama

Alunos do CMPM VI, no Viver Melhor, desenvolveram as peças juntamente com artistas amazonenses.

O projeto “Do Graffiti às Passarelas” chega à sua etapa final com o lançamento da coleção “Beirada” e a estreia do Fashion Film, no próximo dia 15 de novembro, às 18h30, no Ateliê Trama, em Manaus.

A iniciativa, criada pela artista visual e produtora Wira Tini, é uma ação que transforma a vivência de jovens do Colégio Estadual Evandro das Neves Carreira(CMPM VI), localizado no bairro Viver Melhor, em um percurso criativo e formativo através da moda e da arte.

Com apoio de editais e parcerias locais, o projeto propôs oficinas de grafite, design, passarela e audiovisual, que resultaram na criação de uma coleção autoral e de um filme inspirado na Amazônia urbana e no ritmo Beiradão — expressão musical típica das comunidades ribeirinhas do Norte, conhecida pela mistura de guitarras elétricas, percussão e danças vibrantes.

“As referências maiores foram as tiras que representam as ornamentações feitas pelas comunidades ribeirinhas da Amazônia para ‘festas de santo’, onde toca-se o estilo musical do Beiradão na maioria das vezes. E as peças têm um apelo de movimento e dança. As tiras, saias e vestidos com volumes fluidos, são ao mesmo tempo elegantes e confortáveis para o clima que vivenciamos. Isso tudo remete ao calor, agito e movimento do dançar beiradão”, explica Wira.

 

Leia mais

https://culturanorte.com.br/2025/11/12/parque-das-tribos-na-expectativa-para-o-i-festival-de-danca-indigena-kaxiri-na-kuia/

https://culturanorte.com.br/2025/10/30/mi-moda-indigena-realizou-desfile-em-revislate-no-circuito-da-moda-na-italia/

https://culturanorte.com.br/2025/09/29/grupo-indigena-da-amazonia-participa-de-apresentacoes-na-italia-com-o-coletivo-mi-moda-indigena-danca-kaxiri-na-kuia-e-artistas-deficientes/

 

A coleção “Beirada” traduz em tecido, cor e movimento a paisagem humana e cultural das margens dos rios amazônicos. Elementos como a canoa, o reflexo das águas e a energia das festas populares aparecem reinterpretados nas estampas e volumes das peças. Segundo a artista, a proposta foi criar roupas que carregam uma estética fluida e democrática — “um corpo que dança e se move com o calor e a alegria do Norte”.

“Foi uma ‘experimentação’ incrível, os alunos estavam muito dispostos a aprender. E embarcaram na ideia, desde a concepção, o editorial e até o fashion film. Perceberam que trabalhar com moda é uma profissão de muitas mãos, de uma certa forma, comunitária”, ressalta Wira.

O desfile do dia 15 marca o encerramento do processo formativo — uma verdadeira “prova de passarela” em que os estudantes assumem o protagonismo da criação à performance. O evento celebra não apenas o resultado estético das peças, mas também o amadurecimento dos jovens participantes, que vivenciaram todas as etapas de produção de uma coleção de moda.

Fashion film: o Beiradão como travessia e narrativa amazônica

Além do desfile, será apresentado o fashion film “Beirada”, dirigido por Wira Tini e equipe, com protagonismo dos próprios alunos e da modelo amazonense Gabriele Moraes, que também compõem o elenco profissional da produção.

Gravado no Porto de Manaus e nas balsas que ligam as margens da cidade, o filme propõe uma metáfora visual da travessia entre o interior e o urbano — uma viagem simbólica que leva consigo o ritmo, a identidade e as cores da Amazônia.

“A proposta do fashion film é como se as modelos, que são as alunas e mais a Gabi, tivessem vindo mesmo do interior. A gente gravou no porto, dentro dos barcos. A intenção é mostrar que eles estão vindo do interior, e o ritmo Beiradão vem junto com essa coleção — trazendo a força da floresta, dos povos ribeirinhos e indígenas, das festas populares e católicas que a gente tem. Essa força está vindo pra cidade junto, nessa forma de arte”, conta Wira.

O filme, de estética experimental, reforça o diálogo entre moda, identidade e pertencimento, ampliando o alcance da mensagem do projeto para além da sala de aula e do desfile.

“Ele contribui porque vai deixar essa mensagem. Quem vai estar no desfile vai ver as peças pessoalmente, mas quem não estiver vai ver o filme e entender a história. É uma forma de registrar e compartilhar tudo o que o projeto construiu. O público pode esperar uma experiência muito boa, pelas cores, pelo porto… quem é daqui vai sentir a energia. Quem já viajou de barco para Manaus vai se ver nos modelos”, destaca.
Impacto social e continuidade

“Do Graffiti às Passarelas” nasceu com a proposta de aproximar jovens da periferia da produção artística e das possibilidades profissionais do setor criativo. Para Wira, o projeto também ajuda a transformar a percepção sobre o bairro Viver Melhor, muitas vezes associado a estigmas sociais.

“Quando muitas pessoas falam no bairro Viver Melhor, elas têm um pensamento muito negativo. A intenção do projeto é que as pessoas possam olhar e ver que, em todos os lugares, tem coisas negativas, mas também tem muitas coisas positivas, muitos jovens talentosos e pessoas incríveis. Que a sociedade possa ver esses adolescentes como protagonistas, como capazes de fazer coisas incríveis”, ressalta.

A artista reforça que o projeto pretende continuar em novas edições, alcançando outras escolas públicas, porém, é preciso que o público, investidores e o próprio Estado entenda a importância de patrocinar essas ações. Para Wira, o lançamento da coleção e do filme marca um momento inédito para a moda amazonense.

“Vai ser a primeira coleção de moda voltada especificamente pro Beiradão. A gente está começando a ter uma valorização desse ritmo, que está aqui há mais de 50 anos e nunca teve nada de arte visual ou palpável que o representasse. É a primeira vez que isso acontece”, finaliza.

Do Graffiti às Passarelas é realizado com apoio do Governo Federal e Governo do Estado do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa, e Conselho Estadual de Cultura.

Gostou? Compartilhe