Campanha “É Hora de Taxar os Playboys” termina com campeonato de papagaios e roda de conversa sobre justiça tributária na periferia

No último domingo, 9/11, houve o fim da campanha “É Hora de Taxar os Playboys”, organizado pelo coletivo Arte Ocupa, com a realização de um campeonato de papagaios na comunidade Mossoró, localizada no bairro Petrópolis, zona Sul de Manaus.

Durante três dias, a campanha realizou diversos encontros com crianças, jovens e adultos da localidade para falar sobre justiça tributária. Acompanhado de especialistas, o assunto foi abordado de forma prática e lúdica, apresentando as questões técnicas do tema de forma acessível.

No domingo, o dia foi reservado para o diálogo com os jovens da comunidade. A roda de conversa foi realizada com o jornalista João Felipe Serrão que trouxe dados e reflexões sobre a forma como a renda é distribuída no Brasil. Para ele, falar sobre o assunto com os jovens da comunidade Mossoró foi um desafio porque ele queria trazer referências que dialogassem com os participantes da conversa.

 

“Foi muito legal ver a consciência crítica que eles têm em saber que estão no lado menos favorecido da balança e perceber que eles entenderam a mensagem de que não é exatamente punir os mais ricos, mas equilibrar essa balança tributária no Brasil”, disse João Felipe sobre a percepção dos jovens que participaram do diálogo.

 

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Após a roda de conversa, foram distribuídos 50 papagaios e houve a realização de um campeonato que teve troféus, medalhas e premiação em dinheiro, além da entrega de 60 kikões para a comunidade. Isaque Andrade Pessoa e Gabriel Medeiros se consagraram como vencedores do torneio e levaram para casa um cheque de R$ 150 reais pela vitória.

Ao falar da conquista, Isaque agradeceu a Deus e contou como derrubou dois papagaios de seus rivais após Gabriel, sua dupla, ter sido eliminado momentos antes. Ele disse que irá guardar o dinheiro que recebeu e que gostou de participar da atividade organizada pela campanha “É Hora de Taxar os Playboys”.

Para Sarah Campelo, cofundadora do coletivo Arte Ocupa, que organizou a campanha na comunidade Mossoró, encerrar o ciclo de atividades com os jovens superou suas expectativas. “A roda de conversa me surpreendeu muito porque o João conseguiu falar de uma forma atraente sobre a pauta, mesmo ela sendo tão árida, e eles interagiram”.

“Isso é extremamente importante porque a gente entende que a comunidade está cada vez mais construindo um senso crítico, sendo sensível e se fortalecendo para construir um pensamento que a periferia se fortaleça e construa seus próprios líderes”, continua Sarah Campelo.

Já sobre o campeonato de papagaios, ela afirma que ele mostra que é possível falar sobre temas complexos de forma lúdica e juvenil. “A gente vê que podemos falar de política com os jovens, com crianças, porque é só a gente adaptar a forma de se comunicar que dá super certo”, ela completa.

Conversas anteriores

Além de domingo, 9/11, a campanha “É Hora de Taxar os Playboys” também teve atividades no sábado, 1/11, e na terça-feira, 4/11, focados nas crianças e adultos, respectivamente. No dia voltado para os pequenos, a roda de conversa foi realizada pela artivista e pesquisadora Patrícia Patrocínio. O evento teve a presença de 20 crianças e contou com a entrega de um kit com boobie goods personalizados, pincéis e merenda.

Patrícia Patrocínio disse que ficou bastante emocionada em falar sobre o assunto com as crianças da comunidade Mossoró e que é um desafio falar deste tema com elas. “Como que traduz esse conhecimento para a criançada de uma forma lúdica, acessível, que elas consigam compreender que, no final das contas, essa discussão tão complexa é sobre uma questão de justiça?”

Para Cira Ribeiro, doméstica e babá, a ação promovida pela campanha “É Hora de Taxar os Playboys” foi positiva pelo impacto que teve nas crianças da comunidade. “Para mim, pelo lugar que a gente mora, é uma oportunidade para a criança ter outra visão da vida. Que a criança tenha outra mente e possa aprender outras coisas”.

Já na data reservada para os adultos da comunidade Mossoró, a conversa foi realizada por Edson Fernandes, economista e professor voluntário da UEA, e Francisco Marcelino. Vinte pessoas da comunidade participaram da atividade e houve, ao final, a realização de um bingo e distribuição de 60 litros de sopa.

Francisco Marcelino contou que estudou bastante para poder falar sobre o tema e poder sanar as perguntas de quem estivesse presente. Edson Fernandes disse que a conversa foi positiva, apesar da complexidade do tema. “O principal objetivo é fazer com que eles tenham essa consciência, da responsabilidade que eles têm e entender que eles possuem direitos. E eles precisam exercer esses direitos com responsabilidade, porque eles pagam, eles contribuem através do pagamento de impostos”.

E esse ponto foi ressaltado por Rubenita Santos, aposentada, que participou da roda de conversa. “Veio para nós um conhecimento daquilo que a gente não sabia, que são os impostos que são descontados do nosso salário. Se tivesse justiça, iam descontar mais daqueles que ganham mais e menos daqueles que ganham menos. Porque como nós ganhamos menos, ia sobrar mais dinheiro para colocar o pão de cada dia na nossa mesa e no nosso bolso”, ela comenta.

Sobre o Arte Ocupa
O Coletivo Arte Ocupa é uma iniciativa artística, cultural e social fundada em Manaus (AM), em 2021, que constrói projetos de transformação social com foco em potencializar territórios periféricos como espaços de criação e resistência. Atuando nas periferias da cidade, o coletivo reúne artistas, agentes culturais e educadores da Amazônia, e desenvolve ações que promovem o acesso à arte, valorizam saberes comunitários e estimulam a expressão crítica e poética de crianças, jovens e adultos. Entre suas atividades estão exposições de artes visuais, oficinas, rodas de conversa, palestras e intervenções culturais, com destaque para a atuação na comunidade Mossoró, onde realiza diversas ações, como muralismo nas casas dos moradores, sessões de cinema, distribuição de cestas básicas e oficinas diversas voltadas a vivências afetivas, culturais e de livre expressão.

Fotos: Alex Costa (Rivotrist)/Divulgação

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