Manaus 356 anos de cidade de invasões e povo em construção

Desde o principio, a grande metrópole da ZFM e a Paris do Trópicos da febre da borracha, manteve e ampliou a logica da desigualdade social, com as ilhas de prosperidade nos bairros de elite e a grande periferia de favelas.

As celebrações dos 356 anos da fortificação construída pelos portugueses, no lugarejo chamado Barra do Rio Negro, para conquistar e  manter as terras dos holandeses e demais aventureiros e exploradores europeus que por aqui já tentavam há tempos seduzir com presentes os habitantes originários; o lugar nem sequer se chamava Manaus, e sim, era a terra sagrada dos povos Manaós, Tarumãs, Pasés e Baniwas, que sofreu uma primeira invasão cruel, pelos portugueses que ocuparam o lugar de descanso eterno dos entes queridos dos indígenas guardiões dessa área onde eram realizadas as suas cerimônias sagradas.

Em cima do grande cemitério indígenas foi construída a cidade que hoje comemoramos o início do processo civilizatório, sem se levar em conta os milhares de anos de existência das gerações dos povos originários, que aliás até hoje habitam e reivindicam esse lugar sagrado! A cidade se transformou numa metrópole cosmopolita, onde povos europeus, asiáticos e africanos também se fixaram e a construíram com suor e sangue.

A história como conhecemos nos bons livros de história, e principalmente, no registro oral dos nossos ancestrais é feita de dominação cruel, exploração dos recursos naturais e da força de trabalho escravo dos povos nativos, africanos e trabalho similar a escravizados como os nordestinos. A cidade cresceu ou explodiu em cada ciclo vivido, nos da borracha, comércio e indústria, onde a cada oportunidade de negócios, demanda mão de obra farta e barata, foi transformando a então Vila da Barra de São José – o Porto de Lenha do poema de Aldisio Filgueiras – na Manaus internacional da Zona Franca comercial e da grande cidade do Polo Industrial de Manaus.

A cidade sonhada nos delírios da febre da borracha do início do século 20, como a Paris dos Trópicos foi se agigantando e se transformando na cidade-estado das favelas da Amazônia profunda, epicentro da imigração interna e externa na busca de emprego do comércio e indústria da zona franca de sonhos e realidade dura. A capital das oportunidades é também a segunda maior no país em desigualdade, com 55% da população de 2 milhões e 300 mil vivendo em favelas, só perdendo para Belém do Pará, segundo revelou em 2022 o IBGE.

Os desafios não param por aí, pois o Estado tem na educação a triste última colocação no Enem de 2024, a porta de entrada para a Universidade e o futuro da geração atual. Na saúde, basta relembrar do enfrentamento a pandemia de Covid 19, que relevou a tragédia nacional e internacional com cenas dantescas que jamais serão apagadas da história e de nossas memórias! A cidade é violenta e ficou em 7o.lugar entre as capitais com mais homicídios segundo o 19o.anuário de segurança pública, mas ficou em 5o.lugar na violência contra a mulher (feminicídio e estupro) – os indices e histórico comprovam, que aqui apesar das oportunidades, nao é um lugar fácil de se viver.

Somos uma ilha de oportunidades e desigualdades, cheia de perigos, mas também de  possibilidades: o desenvolvimento social e ambientalmente sustentável (turismo, bioindustria, extrativismo, pesca); turismo ecológico e os superalimentos da floresta, que tem no açaí sua ‘commoditie’ potencial, e olha que nao falei dos polêmicos e estratégicos minerais e suas “terras raras”. O que dizer do potencial de nossa gente diversa num caldeirão cosmopolita que só as grandes Metrópoles tem igual!?. Ah, antes de terminar é preciso citar que somos a capital mais indígena do país com 54 povos e 36 línguas maternas, e das maiores do planeta com a expertise de saberes e fazeres preciosos na luta para salvar o planeta do desequilíbrio climático! Salve manauaras, parabéns Manaus!

Texto e fotos – Cristóvão Nonato

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