Com rodas temáticas e partilhas simbólicas, a força feminina indígena resgata saberes e amplia vozes.

A força de um território também está na sabedoria de quem o habita. A Oficina Caruanas, promovida pela Associação Zagaia Amazônia, dentro do Projeto Cultura Raiz, é um método de impacto comunitário que agora está sendo aplicado para mulheres no Parque das Tribos, no Bairro Tarumã, em Manaus. O foco é usar justamente a força da sabedoria ancestral como mecanismo de desenvolvimento pessoal e do território, no fortalecimento da autoestima, na valorização das tradições indígenas e no empoderamento feminino.
Hoje aplicada ao Projeto Cultura Raiz, a Oficina Caruanas foi desenhada para reconhecer o papel central das mulheres na preservação de saberes, línguas e modos de vida, além de fortalecer a transmissão intergeracional de conhecimentos ancestrais. As atividades começaram em agosto, com encontros realizados no Malocão do Parque das Tribos, Tarumã Açú, e seguem até o final deste mês de setembro.

Segundo Rozana Trilha, presidente da Associação Zagaia Amazônia e idealizadora da metodologia Caruanas, a proposta é mais do que oferecer aulas: trata-se de um espaço de escuta, acolhimento e reconstrução simbólica. “As histórias transmitidas pelas gerações passadas representam mais do que meros registros, elas constituem a essência do ser, carregando o conhecimento, princípios e costumes que moldaram e continuam a moldar o cotidiano e o futuro”, afirma.
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Esse processo de fortalecimento identitário é vivido intensamente pelas participantes, como destaca Joana (Umússipo, nome na língua Desana). Ela atua como professora da língua Tukano e é uma das mulheres envolvidas na transmissão de saberes tradicionais dentro e fora da comunidade. “Sou falante da língua Tukano, sou associada, sou artesã e,
no momento, sou professora de língua materna. Ensino as crianças que nasceram aqui no Amazonas, que têm pai não indígena, no espaço que se chama Bumini, que quer dizer Uirapuru. Eu canto, eu danço, eu ensino a cultura”, destacou a professora. Reforçando o valor simbólico e prático da oficina em sua vivência como mulher indígena.
Durante o primeiro encontro, as participantes circularam por seis rodas temáticas: Ancestralidade, Cosmovisão, Comunidade, Natureza, Desafios e Futuro Ancestral, que ativam diferentes dimensões do viver coletivo. Cada roda foi pensada como uma forma de trabalhar a identidade, a memória e a força das mulheres indígenas em sua relação com o território e com a floresta.
Rozana Trilha destaca também que esse percurso é uma forma de devolver às mulheres o protagonismo sobre suas próprias narrativas. “As Oficinas Caruanas integram contação de histórias e mapeamento cultural: escutar, registrar e devolver às mulheres é o nosso compromisso de fortalecimento comunitário”, ressalta a presidente.
As aulas seguem nos próximos dias 13, 20 e 25 de setembro – sendo esta última dedicada à entrega de certificados e ao encerramento das atividades da oficina – com vivências voltadas à valorização da diversidade, da oralidade e da autonomia das mulheres indígenas que vivem no Parque das Tribos.
A iniciativa conta com o apoio da Lei de Incentivo à Cultura e do Ministério da Cultura, além do patrocínio do Instituto Aegea e da Águas de Manaus. A realização da oficina também envolve lideranças locais e participação ativa da comunidade, reforçando o compromisso da Zagaia com o desenvolvimento de soluções culturais enraizadas no próprio território.




