A cerimônia teve forte participação política de esquerda e movimento indígena.

A nova reitora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Tanara Lauschner, assumiu, sexta-feira, 4/7, a maior instituição de ensino superior do estado, comprometida em potencializar o protagonismo na sociedade com amplo diálogo com a Pan-Amazonia, maior participação no Polo Industrial de Manaus (PIM) e ampliar a diversidade na gestão e produção acadêmica e científica.
A posse foi um evento político concorrido com as presenças de personagens importantes da esquerda amazonense e nacional como, a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luciana Santos, o presidente do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), Ricardo Galvão, a diretora da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), a ex-senadora/PC do B, Vanessa Grazziotin, o presidente do PC do B estadual, Eron Bezerra, o secretário de Juventude do MEC, Yan Ivanovich, o vereador do PT, José Ricardo Wendlin, além de membros nacionais e locais dos partidos, e ativistas, dentre as mais de 900 pessoas presentes e a maioria da comunidade universitária (alunos, professores e servidores).

A ministra do MCTI, Luciana, lembrou da política pública de tecnologia, do governo federal que é o enfrentamento da simetria regional. “A Amazônia é um território gigantesco do nosso país, e, é estratégico cada vez mais”. E acentuou: “Aqui tem uma biodiversidade, talvez uma das maiores riquezas não só do Brasil como do planeta”. Lembrando que isso precisa se traduzir em qualidade de vida, de emprego e renda e riqueza para o povo. A ministra afirmou que Tanara é uma professora já de décadas dentro da universidade. “Ela, inclusive, foi a primeira subsecretária da Amazônia do nosso Ministério. Tanara, por onde passou, ela fez muito bem, fez com competência, fez com compromisso, com dedicação, e não será diferente agora à frente de uma reitoria”, finalizou.

O presidente do CNPq, Ricardo Galvão, falou sobre a grande diversidade étnica do Amazonas, que a atenção dada tem muito a melhorar. “Eu estive agora, dois meses atrás, em Roraima, onde a Universidade Federal de Roraima, está desenvolvendo um hospital bastante grande, hospital indígena. E tem também a universidade para os indígenas”. Ele disse esperar que a Ufam também vá nessa direção de atenção aos saberes indígenas.

Identidade Amazônica
A segunda mulher a ocupar o posto máximo da instituição, Tanara imprime desde o início de sua gestão um forte compromisso com a valorização dos saberes tradicionais, da diversidade étnica e da identidade amazônica.

A cerimônia de posse também foi marcada por um momento espiritual significativo: a realização do ritual indígena de proteção e purificação, conhecido como BAHSESE. Conduzido pelo Kümu Jaime Diakara Dessano, doutorando em Antropologia pelo COLIND, o ritual utiliza a fumaça do MʉRORÕ (tabaco) e do OHPÉ/SIKÃTA (breu branco) como elementos de cura, ativando efeitos benéficos de purificação e proteção espiritual.
Durante o cortejo cerimonial, a nova gestão da UFAM foi conduzida ao som das flautas sagradas de Jurupari, tocadas por estudantes indígenas, enquanto ocorre a defumação tradicional. A entrada solene foi acompanhada ainda pela leitura da Carta da Comunidade Acadêmica Indígena e do Movimento Indígena à reitora Tanara Laushner, feita pelas acadêmicas Izabel Cristine Munduruku e Etimara Kokama, reforçando o compromisso com uma universidade mais indígena, inclusiva e plural.
Este momento simbólico e ancestral reforça a conexão entre o espiritual, o político e o acadêmico, abrindo caminhos para uma gestão comprometida com os saberes indígenas e a valorização da diversidade cultural e cosmológica da Amazônia.
Indumentária cerimonial e ancestralidade na moda.

A solenidade também foi marcada pela indumentária simbólica escolhida pela reitora: uma pelerine e um traje confeccionados pelo estilista indígena Sioduhi. Nascido na comunidade indígena Mariwá, às margens do Médio Rio Uaupés, no Amazonas, Sioduhi é referência na moda indígena contemporânea e criador da marca Sioduhi Studio.
Sioduhi foi reconhecido como Personalidade do Prêmio Fashion Futures 2023 pelo Instituto C&A e vencedor do Concurso ECOAR pela Arezzo&Co, na Categoria Processos. Possui MBA em Negócios e Estética da Moda pela ECA-USP, MBA em Gerenciamento de Projetos pela FGV e é graduado em Administração pela UNINORTE. Seu nome carrega o espírito ancestral de um baiá, responsável por cerimônias sagradas do Rio Uaupés. Sua marca expressa o orgulho da origem indígena, unindo saberes tradicionais e tecnologias sustentáveis.
A roupa usada por Tanara é composta por duas peças da coleção “Kahtiridá, Fio da Vida”, lançada em 2024 na Casa de Criadores, em São Paulo: a bata Cobra Canoa Laranja, feita com TEA (Tecido Emborrachado da Amazônia), látex de seringueira manejada na Ilha de Cotijuba/PA, e seda certificada pela Lenzing; e a Calça Viscose com Cânhamo, feita com fibra natural considerada sustentável pelo baixo consumo de água e agrotóxicos.
A pelerine cerimonial (espécie de bata), nomeada Manejo do Mundo, apresenta bordados com as constelações indígenas do Alto Rio Negro — como Aña (Jararaca), Pamo (Tatu), Yai (Onça) e Yhe (Garça) — representando os ciclos anuais da natureza segundo a cosmovisão dos povos Tukano, Dessana e Piratapuya. É a primeira vez que uma autoridade universitária da UFAM veste uma peça com essas referências, reiterando o compromisso da instituição com os povos amazônicos.
A posse de Tanara Laushner evidencia o compromisso da UFAM com políticas de inclusão, representatividade e respeito à interculturalidade.
Foto: Ascom/Ufam
Texto: Cristóvão Nonato com informações da Ascom Ufam.




