Na última noite de disputa na arena dos bumbás de Parintins, dia 29, o Boi Garantido vai dar um destaque com direito a toada “Xamã Bahsese”, alegorias e personagens, numa dramatização da medicina indígena do povo Tukano, e os conhecimentos ancestrais de seus Kümus (Xamãs) do alto Rio Negro.

O tema Bashese (benzimento) foi baseado na história do Centro de Medicina Indígena “Basherikowi”, instalado no centro histórico de Manaus – um lugar reverenciado como um território sagrado para os povos indígenas do Amazonas.
Leia mais
https://culturanorte.com.br/2025/06/24/visitas-guiadas-ao-bumbodromo-de-parintins/
O livro do professor Doutor, João Paulo Barreto Tukano, com o título “Kumuã na kahtiroti-ukuse: uma ‘teoria’ sobre o corpo e o conhecimento-prático dos especialistas indígenas do Alto Rio Negro”, é sua tese de doutorado pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), onde relata as práticas da medicina do povo Tukano, do alto rio Negro, onde relata o caso de embate entre os conhecimentos ancestrais de seu povo e a medicina ocidental, para salvar a perna e a vida de uma jovem Indígena que havia sido picada por uma cobra venenosa.

Para João Paulo a presença na arena tem uma representatividade muito importante: “A gente vai estar na alegoria, juntos com outros povos, representando os povos indígenas do Brasil e marcando nossa presença no festival tanto quanto a nossa presença nos territórios brasileiros”, ele ressalta que os indígenas hoje são trezentos e sete povos diferentes que falam em torno de duzentos e setenta e quatro língua diferentes. “Então estar nessa arena vai ser um uma forma de falar da nossa presença no Brasil. Da presença dos povos indígenas há mais de doze mil anos”.

Chave de ouro
A importância da participação na noite de encerramento do festival, ao abordar o tema da medicina ancestral, mereceu uma toada e alegorias, a homenagem é o ápice de um personagem, uma passagem heróica, um conhecimento ou conjunto de conhecimentos, saberes e fazeres que revelam a cultura de um povo.
A expectativa é grande e decisiva pela relevância do tema, e personagens representados na arena, numa noite especial que deverá fechar com chave de ouro a disputa do boi da Baixa de São José.

Entrevista com o antropólogo, Dr. João Paulo Barreto Tukano, criador do Centro Basherikowi e restaurante Biatwi.
CN – Como se deu o convite para o senhor e o centro de medicina indígena participar e ser tema do Boi Garantido?
João Paulo – O convite se deu através da antropólogos, Socorro Batalha e Alvatir Carolino que são pesquisadores; como eles conhecem o nosso trabalho no centro de medicina indígena quanto ao trabalho, e também como a publicação de livros, como minha tese, premiado pelo CAPS em dois mil e vinte e dois, e outro também chamado Yepá-Mahsã (significa “construtor do mundo terrestre e dos povos do Alto Rio Negro” e “ser humano”, respectivamente), que também foi publicado como fruto da dissertação. Então isso tudo somou, deu visibilidade ao nosso trabalho, de onde eles nos convidaram para ser um tema dentro do do evento [festival] que acontece aqui em Parintins.
CN – O que o senhor achou do tema e a visibilidade num festival de tamanha importância?
Joao Paulo – O tema central nosso vai ser o Bahsese. Inclusive foi feita uma música a partir do texto que eu escrevi e isso vai ser apresentado como tema central na Arena, no último dia, e como último item do evento.
Estar nesse evento tão importante, e mundial, é marcar a
presença indígena, dar visibilidade à presença indígena, dar voz dos povos indígenas. Então, a nossa presença resume em representar, 300 povos indígenas do Brasil, 274 línguas diferentes que existem no Brasil. E, também, falar da nossa cultura, da nossa língua, das nossas tecnologias. Nós estamos presentes nesse território, conforme dados arqueológicos, quando eu digo território, território brasileiro, há 12 mil anos. Todo esse tempo, nós estamos desenvolvendo tecnologias, arquitetura, cerâmicas, desenvolvendo medicina.
CN – Qual a importância desta apresentação para a cultura ancestral, as práticas da medicina indígena?
João Paulo – Aliás, se a gente for olhar bem de perto, a maior parte dos remédios que existem no mercado e as tecnologias de tratamento e cuidado de saúde, por trás de quase todas elas, tem conhecimento indígena, tem tecnologias indígenas. Portanto, estar nessa arena é dizer que nós temos nossos próprios conhecimentos, nosso sistema de conhecimentos, nossas tecnologias, nossos especialistas e nosso sistema de formação própria. Somos povos diferentes, então, estar nessa arena vai ser uma mensagem nessa linha, falar da presença indígena como povos diferentes povos que tem conhecimentos diferentes, que pensam diferente que cuidam do território que cuidam da água, da terra, da floresta a partir das próprias concepções e tecnologias; nós estamos manejando esse mundo, o nosso território há mais de 12 mil anos com nossas tecnologias.
Fotos: Divulgação
Texto: Cristóvão Nonato




